Quando a Covid-19 se vai, não é só o mal-estar físico generalizado que persiste, uma vez que, o tratamento deixa marcas na visão. Em casos moderados e graves, os pacientes recebem alta dose de corticosteroides para combater a inflamação vascular sistêmica. O tratamento leva a um distúrbio metabólico, inclusive nos olhos. Uma evidência deste distúrbio, é a flutuação da refração. Aumentou muito o volume de atendimentos a pacientes com queixa de piora na acuidade visual, mas o exame de refração nem sempre aponta mudança no grau dos óculos.

Os olhos são uma das principais portas de entrada do coronavírus responsável pela pandemia e sua transmissão também pode ocorrer pelo contato com a lágrima de uma pessoa infectada.

Estudos recentes, como um liderado por oftalmologistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicado na revista científica The Lancet, apontam que o Sars-CoV-2 ainda é capaz de lesar a retina, onde ficam as células que enviam a informação que gera a imagem no cérebro, e a úvea, conjunto de estruturas que inclui a íris, a parte colorida do olho. Além disso, o agente infeccioso pode inflamar a córnea e ressecar os olhos.

Tudo isso reforça a importância de usarmos máscaras ou face shields, lavar corretamente e com frequência as mãos, evitar tocar o rosto e, no caso de usuários de óculos e lentes de contato, fazer a higiene adequada e diária desses acessórios. São medidas que reduzem o risco de contágio.

Na conjuntivite, os sintomas são vermelhidão, coceira, sensação de areia e ardência nos olhos, lacrimejamento e sensibilidade à luz. A forma viral é altamente contagiosa e, se não for tratada por um oftalmologista, há risco de provocar úlcera na córnea e danos graves à visão. Seja qual for a origem, é imperativo não se automedicar.

Conhecendo um pouco sobre o novo coronavírus

Antes de mais nada, é importante falarmos, mesmo que resumidamente, sobre essa doença que afetou – a ainda afeta – a tantas pessoas. Os coronavírus são uma grande família de vírus bastante comuns em espécies distintas de animais, como camelos, gado, gatos e morcegos. São raros os micro-organismos dessa família que podem infectar pessoas. Porém, eles existem, como é o caso da MERS-CoV e SARS-CoV.

De acordo com o Ministério da Saúde, em dezembro de 2019, foi identificada uma nova espécie do vírus. Chamado de SARS-CoV-2, é o agente causador da Covid-19. Essa doença apresenta casos clínicos variados, indo de infecções assintomáticas a quadros mais graves, como pneumonias. Porém, pessoas com histórico de problemas pulmonares, com baixa imunidade e outros problemas de saúde, tendem a sofrer mais com o problema.

Os sintomas também são diversificados, sendo que os mais comuns são os que você confere abaixo.

• Semelhança com resfriado: tosse, febre coriza, dor de garganta e dificuldade para respirar, falta de ar.
• Distúrbios gastrintestinais: náuseas, vômitos, diarreia e falta de apetite.
• Alterações do paladar.
• Perda de olfato.
• Cansaço.

Conforme a Organização Mundial de Saúde, na última semana de outubro de 2020, foram confirmados mais de 43 milhões de casos e mais de 1 milhão de mortos. Mas você deve estar se perguntando: o que o coronavírus tem a ver com a nossa visão? Bom, as formas mais comuns de acontecer a transmissão do vírus são as que você verá a seguir:

• toque do aperto de mãos contaminadas;
• gotículas de saliva espalhadas pelo ar;
• objetos ou superfícies contaminadas;
• contato com boca, nariz e os olhos.

Além de ser transmitido por meio do contato com os olhos, o novo coronavírus também traz resultados não muito bons para a visão. Continue a leitura e saiba mais.

Como o coronavírus afeta a visão e o que causa

Mesmo não sendo o principal meio de contaminação, é possível que o novo coronavírus seja transmitido pelos olhos. Isso pode acontecer de duas formas. Por exemplo, quando um indivíduo infectado espirra ou tosse, gotas líquidas com o vírus são expelidas. Caso essa pessoa esteja a menos de 1,5 m de distância de outra, essas partículas podem entrar nos olhos desse segundo indivíduo.

Outra maneira de ocorrer a transmissão pelos olhos é pelo contato físico. Ao tocar em um objeto ou superfície contaminada, o vírus passa para a mão e, ao coçar os olhos, por exemplo, acontece a transmissão.

Além de ser uma das portas de entrada do coronavírus, os olhos também são afetados pelo micro-organismo. Isso porque alguns pacientes infectados apresentam alguns problemas de visão, após o contágio. Veja, na sequência, quais os mais frequentes.

Conjuntivite viral
O novo coronavírus provoca conjuntivite viral em alguns dos infectados. Sendo que, embora incomum, pode ser o primeiro sintoma da infecção. Além disso, em alguns pacientes, é o único indício da doença. Porém, na maioria dos casos em que ela aparece, vem acompanhada de outras condições, como as que já citamos. Esse problema ocular acomete mais na passagem da fase 1 para a 2 da patologia.

A conjuntivite viral pode causar irritação, lacrimejamento, secreção, prurido, vermelhidão e comichão nos olhos (aquela sensação de areia). Além disso, algumas vezes, ocasiona feridas e escamações com crostas na pele ao redor dos olhos. Embora possa deixar sequelas no olho, não há registros de danos permanentes associados a esse sintoma. Mas é válido dizer que a forma viral é altamente contagiosa. Também, se não tratada por um oftalmologista, pode provocar úlcera na córnea e danos à visão.

Alterações na retina
A Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, também pode lesar a retina do indivíduo contaminado. Essa é estrutura ocular onde ficam as células que enviam informações para que o cérebro gere as imagens.

Um estudo da Escola Paulista de Medicina, que publicado no The Lancet, mostra que a doença pode provocar lesões anatômicas na retina. Porém, dada à recente descoberta do vírus, ainda não se pode afirmar que as feridas resultam em problemas permanentes de visão.

Os pacientes analisados nessa pesquisa apresentaram lesões retinianas e alguns, também, tiveram manchas tipo algodão, além de micro-hemorragias. É importante ressaltar que esses problemas não são percebidos a olho nu. Para confirmar o problema, é preciso realizar uma tomografia de coerência óptica (OCT). Essa técnica de imagem não é invasiva e também detecta doenças nas retinas de pacientes com outros problemas, como diabetes.

Outros problemas na visão
Além da retina e da conjuntiva, outras estruturas oculares podem ser afetadas pelo novo coronavírus. Ele pode inflamar a córnea e, também, causar ressecamento dos olhos. Ainda, podem afetar a úvea, estrutura que inclui a íris, parte colorida dos nossos olhos.

Também, é muito importante destacar que alguns dos sintomas da Covid-19 são semelhantes aos de um resfriado, como rinite. Esse problema, que geralmente é alérgico, tem como uma das características a coceira nos olhos. Esse ato pode danificar a córnea e levar ao ceratocone.

Tratamento dos problemas de visão

Por ser uma doença ainda muito recente, não deve ser subestimada. Portanto, se você apresentou conjuntivite ou qualquer outro problema de visão, associados ou não aos outros sintomas, procure um oftalmologista. Somente esse profissional poderá recomendar o tratamento correto para o seu caso.

Também, é importante lembrar que não é recomendado pingar colírios e nem fazer uso de medicações sem solicitação médica. A automedicação pode piorar o seu caso, ainda mais se tratando de uma doença nova.

Medidas de proteção

Desde março de 2020, diversos locais do Brasil aderiram ao isolamento social, a chamada quarentena. Essa é apenas uma das medidas de proteção contra o novo coronavírus. Colocando em prática as recomendações a seguir, você poderá se proteger da Covid-19 e, claro, assegurar a sua saúde ocular.

• Lave as mãos com frequência: com água e sabão. Se não for possível, utilize álcool em gel. Mas dê sempre preferência para a primeira opção.
• Evite tocar o rosto: lembre-se que as mucosas dos olhos, nariz e boca são portas de entrada para o vírus.
• Utilize máscaras, sempre que sair de casa ou estiver em ambientes fechados, com mais pessoas.
• Pratique o distanciamento social: fique sempre a 1,5 m de distância da pessoa mais próxima.
• Ao tossir ou espirrar, faça-os na curva do seu cotovelo ou em um lenço de papel limpo.
• Utilize protetores faciais (face shield), pois protegem os olhos.

Ainda não existe cura para o novo coronavírus, porém, os esforços mundiais estão voltados para isso. Então, enfatizamos que todo cuidado é necessário. Caso apresente algum sintoma, procure a unidade de saúde mais próxima da sua casa. E se você tiver algum dos problemas oftalmológicos, como conjuntivite, visite o seu oftalmologista.

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